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terça-feira, 28 de abril de 2015

Atentado a agente penitenciário de São Joaquim de Bicas acende alerta Sistema de Minas Gerais

Carta que teria sido escrita por presos de Bicas pede união de detentos contra servidores 

Renato Damasceno, 38, estava uniformizado quando percebeu a aproximação de um carro vermelho, ocupado por dois homens. O veículo parou ao lado da motocicleta conduzida por ele, e a dupla fez disparos, que atingiram a vítima duas vezes nas costas. O agente só não morreu, segundo colegas, porque também estava armado e revidou. Além de atirar várias vezes contra Damasceno, os bandidos também dispararam contra o tanque de combustível da moto e fugiram sem roubar nada.

O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de Minas Gerais relaciona o crime à carta que circulou na última semana e pede investigação rigorosa do caso. “Entre quinta-feira e sexta-feira, agentes interceptaram uma carta com ameaças na área de inteligência. Quando é domingo, um agente daquela região sofre uma tentativa de assassinato? É muito suspeito. Todos os agentes estão em alerta máximo”, afirma o presidente da entidade, Adeilton de Souza Rocha. 

A Polícia Civil informou apenas que o inquérito está em andamento e que não divulgaria mais detalhes, para não atrapalhar as investigações. A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) declarou que não recebeu “registros formais” de reclamações ou ameaças feitas por presos. Na suposta carta, presos da unidade Bicas 2 criticam a atuação dos agentes, que estariam proibindo as visitas íntimas realizadas irregularmente em barracas improvisadas com lençóis e cobertores no pátio do local. 

Crime. Renato Damasceno, que é contratado na unidade Bicas 1 desde 2006, tinha trabalhado das 7h às 19h no anteontem. Ele estava no bairro Santa Maria, no Barreiro, quando foi surpreendido pela dupla armada. Não houve, segundo relatos à polícia, anúncio de assalto. Diante da reação de Damasceno, que também começou a atirar, a dupla fugiu. Ninguém tinha sido preso até a noite de ontem. 

O presidente do sindicato contou que o próprio agente, em conversa com diretores da entidade, disse acreditar ter sido vítima de um atentado. Rocha relaciona a tensão dentro do sistema à superlotação do presídio – as unidades 1 e 2 de Bicas estão com mais do dobro de presos acima da capacidade. “Quando há muitos detentos e muitas visitas, os presos começam a burlar as regras”, afirmou. 

Na carta supostamente escrita pelos presos, eles combinam de fazer greve de fome e recusar a sair para o banho de sol até conseguir conversar com o diretor do presídio sobre a suspensão das visitas íntimas. “Tenho certeza de que todos os vagabundos que representa na rua não vão deixar isso acontecer (sic)”, diz o texto.

Recuperação

Saúde. Segundo o sindicato dos agentes, Renato Damasceno permanece internado e terá que passar por cirurgia para retirada das balas. O local em que ele está hospitalizado é mantido em sigilo. 

Saiba mais
Lotação. Com 820 vagas, a unidade 1 do presídio de São Joaquim de Bicas tem 2.000 presos ocupando. No Bicas 2, a situação se repete. São 1.700 detentos para 754 vagas, 946 a mais. 

Conflito. A relação entre detentos e agentes nas unidades de São Joaquim de Bicas é tensa. No fim de 2014, reportagem de O TEMPO relatou situações de humilhação enfrentada por familiares de presos. 

Fechado. Na semana passada, O TEMPO mostrou que, superlotado, o sistema prisional mineiro estaria prestes a fechar as portas, segundo servidor ligado à chefia da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). De acordo com ele, a ordem para não prender mais criminosos por não ter onde os colocar chegou a ser dada em 2014, mas a proximidade das eleições fez com que a determinação fosse abandonada. 

Limite. Desde então, com ainda mais presos, a situação no sistema teria ficado pior. O Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira, na capital, é um exemplo. 

Interdição. Há cerca de dois anos, acordo judicial limitou a lotação ao dobro da capacidade da unidade, que tem 404 vagas, mas em 2015 chegou a abrigar 1.500 presos. O local foi interditado no último dia 10. Fonte: Jornal O Tempo

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