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sábado, 17 de julho de 2010

Ex-preso político de Cuba pede que Lula se desculpe

Hospedado precariamente num hotel da periferia de Madri, sem muita privacidade e com banheiros compartilhados, Pablo Pacheco não se queixa.

Ao contrário. Acompanhado da família –mulher e filho— Pablo diz que “ninguém no mundo pode estar mais feliz” do que ele.

Pablo é um dos 11 presos políticos que, libertados em Cuba, foram embarcados para a Espanha. “Vivo um sonho, liberdade é tudo”, diz.

A felicidade de Pablo é, porém, contida. “Não celebro”, afirma. “Não há motivos para celebração enquanto houver presos políticos em Cuba”.

Já na condição de ex-preso de consciência, Pablo falou ao repórter gaúcho Leo Gerchmann. Na entrevista, dedicou meia dúzia de palavras a Lula.

“Admiro o presidente Lula. Ele é um dos líderes políticos que mais fizeram pelo Brasil e por nossa América Latina...”

“...O Brasil, de uma hora para a outra, converteu-se em um ator principal na região e no mundo. Eu o felicito pelas muitas coisas boas que fez...”

“...Deveríamos ter mais Lulas e menos Castros. De qualquer forma, creio que ele se equivocou nesse momento, quando nos comparou aos delinquentes de São Paulo”.

Pablo refere-se a uma frase pronunciada por Lula em fevereiro, nas pegadas da morte do preso cubano Orlando Zapata, que fazia greve de fome.

Numa entrevista concedida em Havana, Lula condenou o uso da greve de fome como método de luta. Lamentou que pessoas como Zapata “se deixem morrer”.

Depois, de volta a Brasília, Lula fez a comparação que semeou mais incômodo nos cárceres apinhados de Cuba.

Imagine se todos os presos de São Paulo fizerem greve de fome!, disse o presidente à época. Na opinião de Pablo, Lula é devedor de um pedido de desculpas.

“Creio que, com a cordura que lhe é característica, ele poderia pedir desculpas e, sei lá, dizer que se equivocou. Bem, quem já não se equivocou na vida?”.

Na última terça-feira (16), quando parte dos presos cubanos já havia embarcado rumo a Madri, Lula fez uma declaração sobre o caso.

Nada que se aproximasse, porém, de um perdão. Como se nada houvesse ocorrido, o presidente se disse “feliz” (confira no vídeo lá do alto).

“Eu fiquei tão feliz que os cubanos soltados presos [sic] como eu fiquei feliz quando fui solto da cadeia em maio de 1980”, afirmou Lula.

Acrescentou: “Deus queira que todos os países soltem da cadeia presos que são considerados presos políticos”.

Pôs-se a parabenizar aqueles que fizeram o que ele se absteve de fazer em fevereiro. Teve o zelo de incluir no rol de felicitações a ditadura de Cuba:

“Parabéns à Igreja Católica da Espanha, parabéns ao governo cubano e parabéns a todos que lutarem para liberar algum preso no mundo”.

Esquivou-se de mencionar explicitamente o nome de Guillermo Fariñas, o dissidente cubano que teve papel central na liberação dos presos.

Fariñas sustentou uma greve de fome por heróicos 135 dias. Interrompeu-a, já com a vida pela bola sete, depois que a ditadura dos irmãos Raul e Fidel Castro se dobrou.

Para evitar a exposição de mais um cadáver no noticiário mundial, o presidente Raul Castro concordou em libertar, em quatro meses, 52 presos políticos.

Depois de arrostar uma cana dura de quase oito anos, sob a acusação fazer críticas ao governo e promover “propaganda inimiga”, Pablo vive um recomeço aos 40.

Junto com a mulher Oleivys García, 38, e o filho Jimmy Pacheco, que completará 12 anos na próxima quarta, Pablo será enviado à cidade espanhola de Málaga.

Ele é professor de educação física e jornalista. Ela, médica. É improvável que consigam colocações à altura da qualificação pessoal. Sobretudo numa economia em crise como a espanhola.

Pablo parece dispor de uma única certeza: “Seja aqui na Espanha ou onde eu estiver, mesmo que seja na Antártica, vou ajudar meu país”.

Como? “Falando e escrevendo muito. Em Málaga, que será nosso destino, vou trabalhar de dia e escrever à noite”.

Pablo planeja editar dois livros. Num, vai contar a experiência no calabouço. Noutro, dirá como o amor manteve sua família unida no martírio.

Enquanto isso, aguarda pelo pedido de desculpas de Lula. Talvez devesse puxar uma cadeira. Fonte: Blog Josias de Souza, texto de Josias de Souza

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