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domingo, 11 de abril de 2010

Reflexão: Professores de São Paulo após greve comentam texto de Gilberto Dimenstein no Folha Online

Professor é a profissão mais importante

Sempre digo que professor é a profissão mais importante porque ele forma do médico ao engenheiro, passando pelos cientistas --nenhuma atividade é tão essencial a uma sociedade como a educação. É por isso também que o professor tem de ser cada vez mais valorizado, até porque é a forma de atrairmos talentos para a sala de aula.

Tenho defendido essa posição toda a minha vida. Daí minha perplexidade ao ler muitos dos e-mails --alguns deles apenas insultos-- enviados por causa de minha posição sobre a greve dos professores, que acabou sem nenhuma reivindicação atendida.

Se tivessem lido os comentários com atenção, veriam que minhas posições ajudam muito mais o professor do que a defesa de posições corporativistas extremadas.

A greve não teve apoio da sociedade porque não se viu ali a defesa do aluno, mas de outros interesses --a sociedade só prestou atenção quando se fechou a Paulista e tumultuou o trânsito. Volto a dizer que o professor é massacrado diariamente e precisa expor seus dramas para melhorar suas condições de trabalho, a começar do salário.

Mas será difícil a sociedade apoiá-la se seus representantes pedem aumento do absenteísmo, fim das provas aos professores, ataques ao programas de mérito. Pior ainda, quando manifestações acabam de violência, gerando cenas que, de forma alguma, representam os professores --uma violência da qual a própria presidente do sindicato foi vítima durante a assembleia que decretou o fim da greve. Fonte: Folha Online, texto de Gilberto Dimenstein

Comentários dos internautas da Folha Online
Luciano Felipe comenta:

Caro Dimenstein,
O que você fala é consenso: o professor é central na sociedade e tem de ser valorizado. Se deslizasse quanto a isso, sua insanidade estaria provada e você não teria o espaço que tem para afirmar aquilo que qualquer um estaria apto a dizer. Se afirma, durante toda sua carreira, que o magistério tem de ser valorizado, isso só demonstra que você não é louco. E se acha que devemos glorificá-lo em função dessa idéia, para mim isso só prova que você é o gênio da obviedade.

Meu descontentamento com vossa excelência, porém, tem outra origem: aquilo que você fala não se reflete em suas ações. Ou seja, além de falar o óbvio, age contra o óbvio que afirma.

Dito isto, vamos, enfim, ao que interessa: como o senhor não é louco, sabe que nossa greve não era em defesa do absenteísmo. Portanto, se o senhor realmente acredita na valorização do magistério, pare de afirmar isso. Porém, se não entendeu essa reivindicação, esclareço: NÃO DEFENDEMOS A FALTA AO TRABALHO, mas o direito de podermos, no mínimo, nos recuperar das doenças que nos acometem. Não somos super-heróis! Ao contrário, as condições de vida e trabalho que temos fazem com que nossa saúde se fragilize com tal facilidade que estamos mais para "super-nadas".
Na verdade, o resultado da legislação contra as faltas, que você defende, é o seguinte: além dos colegas estarem indo trabalhar adoentados, aqueles cujas doenças não lhes permitem trabalhar estão tendo suas licenças pelo governo.

Eu mesmo, destroçado pelo cotidiano da escola e ameaçado fisicamente por alguns alunos (pelo fato de ser um professor presente e atuante), entrei num nível de estresse tão brutal que, no início de 2009, não conseguia mais dormir, perdi minha barba e emagreci quase 10 quilos.
Fui afastado pelos médicos do hospital do servidor (senão eu enlouqueceria), mas minha licença foi pelo Departamento de Perícias Médicas (cujos membros são burocratas que nada entendem de saúde, mas de números e orçamento).
Se você continuar a afirmar que nossa greve defendia o "absenteísmo" entenderei que você está defendendo que eu deveria continuar trabalhando sem condições psicológicas e, além disso, deveria ser triturado pelos alunos que me ameaçavam, ou, ainda, que eu deveria agir como eles ou permitir que eles tomassem conta da escola em que trabalho. Enfim, OS QUE ESTÃO SENDO PREJUDICADOS POR ESTA LEI SÃO OS QUE AGEM PARA QUE A ESCOLA FUNCIONE, pois são estes que efetivamente absorvem, em seu corpo e mente, os problemas do cotidiano escolar.
Sobre o mérito, é mais do que óbvio que não somos contra ele, mas defendemos que ele se realize em outras bases. Além disso, a aprovação nas provas não garante aumento salarial efetivo, pois este fica nas mãos do governo.
Sobre a violência na última assembléia, aquilo foi atitude de pessoas insanas e isoladas. Para mim, esse tipo de pessoa só está no magistério por que a carreira não consegue mais atrair um grande número de pessoas de fato comprometidas. Neste sentido, você, Dimenstein, ao falar e não agir com seriedade em sua suposta defesa do magistério, só contribui para que atos como esses aconteçam.
Por fim, não digo que me enojo ao ler seu texto, mas me espanta ver que, em tom de glória, você escreve que a greve "acabou sem nenhuma reivindicação atendida". Como você é um homem saúde mental intacta, percebeu que, de fato, A PRINCIPAL REIVINDICAÇÃO DA GREVE ERA O AUMENTO SALARIAL DE 34,3%, que não resolveria nosso problema financeiro, mas tornaria o nosso salário menos miserável. Porém, mais que as palavras que escreveu, são as que não escreveu que evidenciam sua irresponsabilidade para com o magistério. SUA NÃO INDIGNAÇÃO COM O GOVERNO POR NÃO TER NOS DADO AUMENTO SALARIAL EVIDENCIA QUE VOCÊ ESTÁ CONTRA O MAGISTÉRIO. Ou seja, ao demonstrar felicidade por não termos conseguido nada, você está dizendo que o magistério público deve, na verdade, ser desvalorizado e, por conseqüência, destruído. Afinal, defender que um professor tenha que viver com R$ 1.200,00 mensais de salário é querer a sua destruição.
Mas minha tristeza não é grande por causa disso. É, na verdade, por saber que você é o principal formador de opinião da sociedade paulista em relação à educação. Afinal, com um homem como você como suposto defensor do magistério e que tem nas mãos um jornal tão poderoso quanto o que escreve, estamos totalmente perdidos.
Desta forma, só nos resta desejar que uma luz, talvez trazida pelos extraterrestres, ilumine o caminho dos professores de São Paulo, pois o que a imprensa e a elite paulista quer é nos ver na desgraça e na escuridão...

Givaldo Santos comenta:
Dimenstein, fique tranquilo, pois entendemos perfeitamente os seus artigos e a sua posição. Todas as escolas da rede estadual recebem DOIS exemplares da FSP , DOIS do Estadão, UM da Veja e UM da Época, sem contar a revista "Atualidades"(encalhada nas bancas) da editora Abril, a qual somos OBRIGADOS a trabalhar com os alunos do 3º ano do EM, sem nenhuma orientação, base, apoio, etc. Tudo para satisfazer uma imprensa decadente pós-internet que perde assinantes a cada dia.
Todo o material descrito anteriormente nos é empurrado goéla abaixo sem nenhuma opção de escolha.
Depois de muitos anos de luta e reivindicações, finalmente fomos atendidos pelo governo federal, fizemos a escolha do livro didático ideal para o ensino médio. Cada escola teve a liberdade de escolher o livro que lhe convinha - cada livro custa em torno de R$100,00 -, porém, agora encontram-se encostados nas casas dos alunos, pois a tal "Cartilha" da SEESP contém conteúdos que destoam completamente de tudo que há nos livros didáticos produzidos até hoje, na disciplina de Geografia por exemplo.
O governo do estado jamais nos consultou sobre a produção de tal material e muito menos sobre qual jornal ou revista achávamos que a escola deveria assinar. É contra tudo isto que lutamos Dimenstein e estranho muito o sr. não fazer nenhuma referência à política educacional implantada pelo governo que aí está a pelo menos DEZESSEIS anos, isto sem contar o Montoro e seus sucessores que são da mesma linhagem, que díga o sr. Quércia voltando novamente aos braços do Serra, se somarmos serão quase TRINTA anos, e o sr. e seus patrões ainda querem nos responsabilizar pelo caos na educação, francamente é demais.
Experimente assistir a uma aula na periferia de São Paulo, sala de 2º ano do EM com 48 alunos no noturno, exemplo meu em Vila Brasilândia, para quem sabe depois, o sr. falar sobre educação.
De minha parte, na qualidade de professor efetivo e após duas faculdades voltadas para a educação e 12 anos de sala de aula, graças a Deus e a muito estudo, acabei de ser aprovado em um concurso federal , o qual irá me reembolsar bem mais do que ganho como professor, mas lamento profundamente pelos colegas que carregarão este piano nas costas e são açoitados cotidianamente pela sociedade e pela imprensa. A essência do professor está na alma e na vóz, a última ele já não possui mais, só sobrou-lhe a alma...

João Alberto da Silva comenta:
Caro Dimenstein.

Concordo com você que a profissão do professor é a mais importante, mas lamento você insistir nessa absurda defesa das políticas o atual governo no que diz respeito a educação. É verdade que as ausências dos professores na sala de aula prejudicam o rendimento dos alunos, mas o que quase ninguém vê, inclusive o senhor, é que tais ausências são frutos do descaso do poder público, e não o corpo mole dos profissionais da educação.
Os professores faltam porque estão doentes, e os que não estão, ficarão. Causa? Desvalorização profissional, péssimas condições de trabalho, excesso de punições e falta de incentivos. Infelizmente o governo insiste em jogar a culpa do sucateamento da educação pública nos professores, e o senhor lamentavelmente parece acobertar o jogo do governo.
Acredito que, na atual situação em que estamos, é até excesso de ignorância julgar que a greve dos professores teve fins políticos e eleitorais contra a candidatura do PSDB a presidência da República. Por mais que haja interesses partidários no sindicato dos professores, não podemos esquecer que os professores aderiram a greve porque não aguentam mais serem a todo momento chicoteados e espancados por essa política mesquinha e ignorante. Vale lembrar que o sindicato não teria conseguido organizar uma greve sem a adesão dos professores, e a grande maioria dos professores que aderiram sequer são filiados em partidos políticos, muito menos representantes de interesses partidários.
Não sei porque o senhor insiste em defender a meritocracia implantada pelo governo. Já disse em comentários anteriores que não sou contra a premiação dos professores que alcancem excelentes resultados em seu trabalho, contudo, substituir campanha salarial por política de bonificação é tampar o sol com a peneira. Bônus só apresenta bons resultados quando serve como incentivo, e não como punição. Você acha justo que professores tenham que trabalhar doentes, muitas vezes sem voz, disposição ou humor, simplesmente para não serem punidos? Você acha justo que escolas sejam violentadas pelo governo só porque não conseguiram avançar no Idesp? E o que o senhor me diz de os alunos irem mal nas avaliações externas como o enem porque passam bimestres inteiros sem aulas de alguma referida disciplina simplesmente porque não há profissionais em número suficiente para atingir a demanda? O senhor acha justo isso?
Novamente venho falar que o senhor não deve escrever nesse espaço assuntos a qual o senhor não possui conhecimento seguro o suficiente para abordá-los. Sou professor há três anos, concluinte de uma pós graduação, autor artigos jornalísticos e projetos sociais, e graças a pessoas como o senhor que estou partindo agora para outro campo profissional. Sou professor por vocação, e é para proteger a minha vocação de ensinar que vou pouco a pouco me retirar da escola pública, pois não estou a fim de ser mais um na lista dos depressivos e adoentados pelo trabalho. Se o Estado não valoriza minha profissião, eu sou profissional o suficiente para valorizá-la. Se a sociedade é mesquinha o suficiente para lerem autores de baixo nível como o senhor, eu sou nobre o suficiente para dizer que o senhor não entende nada de educação.

Gilberto Ramos Ribeiro:
Dimenstein, finalmente você pôs seus comentários de acordo que possibilite um diálogo. De fato, suas reivindicações vem a propósito dos anseios de nós professores em busca de uma educação séria, voltada à formação integral do aluno.
Obviamente, uma educação sem o absenteísmo que vaga de vez em quando em certas instituições escolares.
Dimenstein, de todo modo acredito que com todo seu conhecimento sua ajuda seria mais valiosa à educação caso você tivesse verdadeiro conhecimento de causa sobre o ensino nas escolas públicas do Brasil. Analisar o ensino em outro lugar que não em sala de aula é deficitário. Conheço mestres, professores muito bem qualificados que não pretendem continuar em sala, devido às dificuldades proporcionadas por alunos que simplesmente não querem aprender.
Você não ensina quando alunos não tem disposição nenhuma, mesmo que você se esforce. O professor ensina em escolas insalubres, com metodologia de 50 anos atrás por falta de tecnologia e investimento, salas superlotadas. São cinco aulas por dia, caso os alunos conseguissem aprender uma página de um livro, durante esse dia, já seria uma vitória. Nós, professores, desperdiçamos tempo demais solicitando disciplina em sala. Temos um sistema de ensino muito leniente. O aluno pensa: para que estudar?seremos aprovados mesmo.
Muitos são de famílias pobres, cujas obrigações diárias impedem de acompanhar o dia a dia dos filhos. Aliás, freire já advertia que a estrutrua social do aluno interfere em sua educação.
Criticar, julgar e lançar toda responsabilidade da deficiência no professor é esconder a verdadeira causa da falência da educação no brasil. Na verdade, sem estruturação social, nós vamos somente encontrar um bode espiatório e proteger os verdadeiros culpados, que são deputados, governantes que não investem adequadamente o dinheiro em educação. Não falo só de aumento salarial de professores, exorto em investir pesado em educação de modo que o professor não permanece com um quadro e giz, enquanto lá fora a tecnologia é mais avançada que a escola.

Os comentários na íntegra pode ser lidos clicando aqui

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