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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Câmara de Maringá pagou R$ 10 mil a catadora que nada recebeu

Ao tentar sacar o PIS, Silvia descobriu que foi contratada do Legislativo por R$ 2,5 mil ao mês, mas o mais perto que ela chegou do mundo político foi ter sido cabo eleitoral de Zebrão

A Câmara de Vereadores de Maringá pagou mais de R$ 10 mil para a catadora de materiais recicláveis Silvia de Moura Guedes, que nunca recebeu um real desse montante e sequer sabia que era servidora registrada na Casa. O dinheiro equivale a quase três anos do que ela consegue ganhar vendendo plástico, papelão e latinhas de alumínio que recolhe nas ruas da cidade e fazendo serviços de limpeza nos finais de semana em uma casa noturna.

Nesta quarta-feira (9), Silvia declarou ao promotor de Defesa do Patrimônio Público, José Aparecido da Cruz, que nunca teve qualquer ligação com a Câmara e mostrou que, em sua carteira profissional, não existe nenhuma anotação que indique vínculo empregatício com a Casa. Em toda a sua vida, o que mais a aproximou do Legislativo foi o fato de, em 2008, ter trabalhado por dois meses na campanha eleitoral do vereador Aparecido Domingos Regini, o Zebrão (PP), então candidato à reeleição, recebendo dois pagamentos de R$ 250. Hoje, Zebrão responde pela presidência da Casa.

Surpresa
Silvia só ficou sabendo que fora contratada da Câmara de Maringá na semana passada, depois de perder seis dias de trabalho para tentar receber o abono salarial dos rendimentos do Programa de Integração Social (PIS), na Caixa Econômica Federal. Lá, para a sua surpresa, ela foi informada que não tinha direito ao abono porque ganhava acima de dois salários mínimos por mês. Como estranhou a informação, foi à Previdência Social.

Na previdência, ficou sabendo que tinha sido funcionária registrada na Câmara de setembro a dezembro de 2008, período em que lhe teriam sido feitos quatro pagamentos em torno de R$ 2,5 mil cada um, totalizando R$ 10.258,69. De acordo com a documentação que ali lhe foi fornecida, Silvia teria sido admitida em 1º de setembro e demitida em 31 de dezembro, quando o Legislativo já estava em recesso. Informa também que não teria sido feito o acerto rescisório, quando receberia o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o porcentual de férias.

Silvia disse a O Diário que não sabe como isso aconteceu, mas que ela está sendo muito prejudicada, pois além de não receber o PIS, “que ia melhorar a situação em casa nesse final de ano”, ainda ficou devendo o Imposto de Renda. “O que estou perdendo ao não conseguir retirar o PIS é mais do que ganhei nos dois meses de trabalho para o vereador Zebrão”, disse.

Prejuízo
A catadora disse não saber se os pagamentos feitos pela Câmara têm alguma ligação com o fato de ter trabalhado na campanha do vereador. Mas lembra-se que na época foram solicitados seus documentos pessoais para que fosse registrada e depois os documentos foram devolvidos em branco. “Nunca vi esse dinheiro. Se ele realmente foi pago, alguém acabou ganhando mais de R$ 10 mil usando meus documentos. Para mim, que sou pobre, só sobrou o prejuízo”.

Quando trabalhou como cabo eleitoral, Silvia foi admitida com um grupo de 30 pessoas e teria sido prometido que todos seriam registrados e receberiam um salário mínimo por mês. Os documentos deles chegaram a ser solicitados pela coordenação do comitê de Zebrão, localizado ao lado de um ginásio de esportes pertencente ao vereador, no Jardim Alvorada.

Silvia conta que além de ter recebido apenas R$ 250 por mês, nada foi anotado na carteira de trabalho. Na semana passada, depois de ter ficado sabendo que havia sido registrada na Câmara, ela entrou em contato com Zebrão, que, segundo ela, foi até sua casa conversar sobre o assunto e teria dito que o Legislativo desfaria o suposto engano. A mãe de Silvia, Maria Guedes, confirmou à reportagem que Zebrão esteve em sua casa. Fonte: O Diário, reportagem de Luiz de Carvalho.

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