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sábado, 21 de novembro de 2009

"Na verdade o homem é monógamo", diz zoólogo

Desmond Morris, o autor de "O Macaco Nu", concede entrevista

"Tenho 74 anos e, segundo minha genética, estou jogando a prorrogação, mas com entusiasmo. Sou um inglês cada vez menos tímido. Me interessa mais o pensamento que a hierarquia. Sou moderado e tolerante, como toda a Europa quando foi próspera. Minha mulher e eu estamos unidos por amor e senso de humor. Estou publicando na Espanha 'A Mulher Nua' (ed. Planeta)."

Lluis Amiguet
Em Barcelona

La Vanguardia- Como cientista, o que o senhor vê quando olha para uma mulher?

Desmond Morris - Um ser muito evoluído, mais neotênico que o homem...

LV - Neo... quê?

Morris - É a característica evolutiva que permite a uma espécie, quando adulta, conservar traços da infância. As mulheres conservam mais características da infância que os homens.

LV - E isso é importante?

Morris - A neotenia favorece a criatividade e a inteligência, porque as crianças são mais aptas para o aprendizado. As mulheres, além disso, desenvolveram outras especificidades que são evolutivamente mais avançadas.

LV - Eu já intuía isso.

Morris - Muitas mulheres ainda desconhecem seu enorme potencial sensorial. Sabe que as mães são capazes de reconhecer seu bebê de olhos vendados, só pelo choro, e que distinguem os batimentos do coração de seu filho entre centenas? Comprovamos isso empiricamente, e é espetacular.

LV - O que o senhor mais inveja nas mulheres?

Morris - Sua capacidade de percepção: o mundo sensorial das fêmeas humanas é muito mais rico que o dos machos: elas percebem melhor as cores e a gama cromática, têm um ouvido mais agudo, olfato e paladar mais refinados.

LV - E não acha isso injusto?

Morris - É natural. Elas cuidaram de coletar as frutas enquanto nós caçávamos. Nós podemos correr mais depressa.

LV - O senhor não inveja nada nelas?

Morris - Invejo sua sensualidade: não só porque sua capacidade de gozar no orgasmo é muito superior à nossa...

LV - Sim...

Morris - ... mas porque essa sensualidade não é só uma extensão de sua capacidade reprodutiva, mas conseqüência de sua maior inteligência emocional. Entre os humanos, foram as mulheres que passaram de copular a fazer amor, e assim estabeleceram vínculos de uma riqueza e sofisticação tais que concederam uma enorme vantagem evolutiva à nossa espécie sobre os outros primatas. Como você deve saber, as mulheres têm quatro zonas erógenas...

LV - Eu me conformaria em encontrar uma.

Morris - Se eu aos 18 anos soubesse tudo o que descobri em uma vida de estudos!...

LV - Ânimo, ainda somos jovens!

Morris - Em suma, elas experimentam com maior profundidade percepções, sensações e sentimentos. Vivem mais. Imitar os homens, como propunham algumas tendências feministas errôneas, é retroceder.

LV - Como pintor, o que o senhor vê numa mulher?

Morris - Cheguei a expor com Miró! Que grande artista! E continuo pintando diariamente.

LV - Eu vi seus quadros e gostei.

Morris - Quando vejo uma mulher, como pintor, vejo uma curva. Cada mulher tem uma, mas não só uma curva física, também mental.

LV - E como zoólogo, o que o senhor vê numa mulher?

Morris - Me apaixona o mimetismo entre os lábios de cima e os de baixo, entre peitos e nádegas... que semiótica poderosa!

LV - E como homem, o que vê numa mulher?

Morris - Me enamoro pela doçura, a calidez e o senso de humor. É o senso de humor compartilhado o que mantém minha esposa e eu unidos durante toda uma vida.

LV - Não tentou a poligamia habitual entre nossos irmãos primatas?

Morris - O homem na realidade é monógamo.

LV - Mesmo que guarde sua monogamia em segredo?

Morris - Você crê que é uma ironia, mas acaba de dizer uma grande verdade. Em muitas culturas o poderoso é obrigado a ser polígamo, porque a posse de muitas esposas é um sinal de status. Mas embora haja muitas concubinas sempre existe uma favorita: isso em pureza zoológica se chama monogamia.

LV - Ou seja, essa história de "duas mulheres ao mesmo tempo" é biologicamente improvável.

Morris - Pode haver duas mulheres ao mesmo tempo, mas na realidade há uma esposa e a outra. Sempre há uma que é a mulher. A outra tem um papel secundário que complementa mais ou menos o homem, mas seu investimento emocional, o homem o realiza só em uma mulher, uma companheira, embora é claro que esse lugar prioritário em seu afeto e sua economia possam ser ocupados por diversas mulheres sucessivamente.

LV - Por que somos seres de uma só mulher?

Morris - Porque só podemos nos ocupar realmente de uma prole, mesmo que possamos ter engendrado várias. E a natureza hierarquiza nossa dedicação para otimizar as possibilidades de êxito sucessório.

LV - Nunca houve um polígamo de verdade?

Morris - Eu e minha equipe de pesquisadores e antropólogos procuramos por todo o planeta pelo menos um caso de poligamia real, quer dizer, um polígamo que desse exatamente o mesmo tratamento a todas as suas fêmeas e aos descendentes que tivesse com cada uma.

LV - E...?

Morris - Não encontramos. Filmamos um famoso bruxo e cantor de rock nos Camarões que tinha chegado a colecionar 58 esposas...

LV - Deve ter sido terrível, coitado.

Morris - ... mas sempre tinha uma favorita.

LV - Ela. Sempre ela.

Morris - ... embora nosso bruxo roqueiro realizasse uma festa de casamento gigantesca cada vez que mudava de favorita.

LV - Como tantas celebridades do rock.

Morris - E todas as garotas do coro estavam casadas com ele! Na realidade era monógamo, mas para aparentar diante da tribo o pobre homem era obrigado a parecer polígamo.

LV - Extenuante.

Morris - A mesma coisa aconteceu com um rei do Taiti que pesquisamos: chegou a ter 28 esposas espalhadas pela ilha, cada uma em sua casa. Mas sempre havia uma com a qual passava mais tempo e cuja prole protegia com mais dedicação e recursos. O homem pode ter muitas companheiras, mas uma única dona.

O PINTOR CONGO

Desmond Morris me parece um grande orangotango carinhoso, livre-pensador e reflexivo, que às vezes coça a calva e outras surpreende a si mesmo rindo de seus casos. E tem muitos. Talvez seja o zoólogo mais famoso do planeta, e percorreu selva a selva para fundamentar suas teorias desde que em 1967 "O Macaco Nu" vendeu 10 milhões de exemplares.

Seu prestígio e sua amizade com Congo, um chimpanzé que ele ensinou a pintar nos anos 60 e chegou a realizar --e vender!-- cerca de 50 quadros, o aproximaram dos gênios da época, entre eles seu amigo e mentor Miró.

Dalí também se apaixonou pelo talento pictórico de Congo; em troca, Picasso mordeu a mão do primeiro jornalista que lhe perguntou sobre as pinturas de Congo (o macaco não quis dar declarações). Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves. Fonte: LaVanguardia via Uol Mídia Global

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