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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ação social pode salvar jovens

Não basta a repressão policial: municípios devem apostar na proteção social dos adolescentes para reduzir índices de mortalidade

A integração entre os diversos setores da sociedade é um dos caminhos apontados por especialistas para reduzir os altos índices de mortalidade entre jovens. Um estudo divulgado nesta semana pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pelo governo federal, pela Unicef e pela organização não-governamental Observatório de Favelas revela que um em cada 500 adolescentes brasileiros morre assassinado antes de completar 19 anos.

Os dados comprovam que as políticas públicas para enfrentar a criminalidade entre jovens são insuficientes, na opinião do so­­ció­logo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Existe uma ilusão de que as políticas têm de ser policialescas. A polícia atua onde deve atuar, é só uma das instituições. Precisamos de políticas sociais, com educadores, assistentes sociais, psicólogos e outros na área de proteção social”, diz.

Dez cidades do PR têm índice pior que a média


Dez dos 17 municípios paranaenses analisados pela pesquisa têm Índices de Homicídios na Adolescência (IHA) acima da média nacional, que ficou em 2,03 mortes para cada grupo de mil adolescentes com idade entre 12 e 19 anos.

Evitar que os jovens permaneçam no crime é uma das maneiras de evitar que a violência contra adolescentes se perpetue em Foz do Iguaçu, que apareceu no estudo como o município com maior índice de mortes juvenis no país. Em anos recentes, boa parte dos jovens assassinados na cidade estavam participando do Programa de Prestação de Ser­viços à Comunidade, que cuida das penas alternativas dadas a menores de idade que cometeram infrações.

A gerente de projetos do Fun­do das Nações Unidas para a In­­fância (Unicef), Helena Oli­veira, uma das coordenadoras do estudo diz que foi pactuada uma estratégia de ação articulada com os 20 municípios do país onde foram estimados os maiores Índices de Homicídios entre Adolescentes (IHA). “Foi formada uma agenda nacional e esse grupo gestor vai atuar de maneira integrada”, diz.

Apostar em políticas de ação social é um dos caminhos, segundo Helena. Entre as experiências que já estão dando certo no enfrentamento da mortalidade entre os adolescentes, a gerente de projetos do Unicef cita o programa Fica Vivo, do governo de Minas Gerais. Belo Horizonte conseguiu reduzir significativamente o número de assassinatos contra adolescentes.

O Fica Vivo começou em 2002, a partir de uma iniciativa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisou os homicídios em Belo Ho­­rizonte. Concluiu que os assassinatos estavam concentrados em algumas regiões específicas, ocorriam perto da casa da vítima e do autor, envolviam conflitos de gangues e com jovens na faixa etária dos 15 aos 24 anos. Um projeto piloto foi feito no Morro das Pedras, considerado na época, uma das áreas mais violentas da capital mineira. “A ideia era articular a repressão policial com ações de inclusão e proteção social”, diz a diretora do Fica Vivo, Kátia Simões. Em um ano, a mortalidade reduziu 40% na região e em 2003, o governo adotou o projeto piloto como política pública de segurança pa­­ra o estado de Minas Gerais.

O Fica Vivo atende mais de 15 mil jovens na capital mineira e em cinco municípios do interior. São 25 núcleos que funcionam como uma espécie de escritório dentro de cada uma das comunidades. Em cada um deles, estão disponíveis atendimento psicológico, assistência social e encaminhamento profissional, entre outros serviços. Oficinas culturais e esportivas são oferecidas em espaços diferentes da comunidade, de escolas a praças.

O segredo do sucesso, segundo a diretora do Fica Vivo, está na aproximação com os adolescentes e comunidade local. “Não há critério para participação dessas oficinas. A aposta é que, mesmo tendo vivenciado uma situação de violência, há uma alternativa para esse jovem sair da criminalidade. Estamos dispostos a acolher, para que se responsabilize por suas escolhas dali em diante”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo por Tatiana Duarte

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